I Can't Stop Loving You

Tem certas emoções que somente o trânsito é capaz de proporcionar. Após um dia cansativo e dos mais complicados possíveis, nada como um bom engarrafamento para nos brindar com um verdadeiro final de tarde “From Hell”.
Não sabia se mantinha minha concentração na ótima possibilidade de passar no supermercado comprar umas latinhas de cerveja e alguma carne, ou na péssima lembrança de ao ter saído ainda de manhã de casa ter esquecido a janela do quarto aberta (já que naquele momento um verdadeiro dilúvio desabava sobre a cidade).
Enfim, meu rosto era o mais fiel retrato de uma múmia em plena fila do semáforo quando um Fiat Uno “Vermelho Chocante” estacionou ao meu lado e de dentro do poderoso veículo o velho Ray Charles bradava a plenos pulmões um “I Can’t Stop Loving You”, tão ou mais potente quanto o grito de guerra da torcida do Flamengo.
O som era tão alto que dava pra sentir as pequenas caixinhas de som do velho Uninho vibrar feito condenadas. Não resisti, tive que olhar quem era o discreto responsável por tamanha façanha. E para minha mais completa surpresa, uma loira dessas de parar o trânsito, acabar com qualquer casamento, desenterrar defunto a nado era a progenitora daquele espetáculo em pleno sinaleiro num trânsito tão caótico quanto a minha conta bancária.
Juro que não sei explicar o que aconteceu comigo, imediatamente ao ver a loira acompanhar o velho Ray Charles, comecei a rir. E olha que sou um sujeito dos mais controlados na questão do riso. Mas juro que não sei explicar o que me aconteceu. Talvez fosse a altura da música, talvez fosse à situação ridícula a que estávamos expostos, talvez fosse o inglês “fundo de roça”, da loirinha do Uno Vermelhão. Enfim, não sei o que me aconteceu, o riso simplesmente tomou conta de mim e para minha mais completa surpresa me fez um bem danado. Quer dizer bem mas nem tanto......

continua