sábado, 1 de dezembro de 2007

I Can’t Stop Loving You - 9 Parte


E o pior é que ele estava certo novamente. A droga do carro sacolejava muito, algo bem próximo a um terremoto para ser mais exato. A sensação era a pior possivel, minha cabeça já dolorida, recebia uma pancada atrás da outra. O suor escorria e a raiva aumentava em proporções cada vez maiores.
-Merda de macaco, me acertou a cabeça de novo!
Não sei se o grito do Borracha me servia de alento, mas se pra mim aquele aperto todo já estava sendo um verdadeiro inferno, calcula pra ele que tem o dobro do meu tamanho.

-Se prepara garoto, agora vamos partir para a etapa dos saltos.

-O que?
Não deu nem tempo de terminar de fazer a pergunta e senti na pele o maldito carro rampando no meio dos carreadores da vida. Sempre sonhei em um dia fazer uma espécie de tour pelo interior, desbravar estradas virgens, sítios desconhecidos e outras especialidades que só a vida rural é capaz de proporcinar. Mas nunca imaginei realizar essa façanha amarrado num porta-malas. E o que é pior, amarrado ao lado de um gordo gemendo feito um porco.

-Vai de leve ai Borracha. Essa coisa macia que você está pisando é meu nariz!


Continua....

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

I Can’t Stop Loving You - 8 Parte


A sensação não era nada confortável. Nunca havia sentido tamanha dor de cabeça. Parecia ter sido atropelado por um caminhão (apesar de nunca ter sentido na pele tamanha experiência, calculo que seja qualquer coisa parecida), aos poucos fui sentindo meu corpo voltar, mas além da cabeça que doia pra caramba, havia outra coisa fora da ordem. Meu corpo estava diferente. Senti uma série de sacolejos, uma vibração intensa, uma estranheza toda particular. Resolvi só então abrir os olhos. Que situação era aquela? Onde eu estava? Havia uma escuridão tão ou mais sufocante que, que a de um túnel. Um calor digno do deserto do Saara, e um aperto agonizante que era de enlouquecer os mais desavisados.
-Mas que merda é essa?
Finalmente percebi que meus pé e mãos estavam amarrados.
-Demorou pra você acordar garoto!
Era a voz do Borracheiro Bonachão rajando ao meu lado.
-Que lugar é esse?
-Não sou lá um especialista em porta-malas de automóveis, mas acredito que pelo aperto que estou sentindo e pelo sacolejo insistente que esses malditos amortecedores estão provocando se trata de um carro da Fiat, não resta a menor dúvida.
-Carro?
-É meu garoto. Faz mais de meia hora que estamos rodando dentro desses aperto!
E o calor que fazia dentro daquele maldito porta-malas? Nem na sauna do clube eu havia sentido tamanho calor. A impressão que se tinha era que a qualquer momento o pouco ar que havia dentro daquele cubículo ia se acabar.
-Se prepara ai garoto. Acho que o pior está por vir!
-Como assim?
-Não sentiu o cheiro de poeira não?
Não queria admitir, mas o Borracha tinha razão. Um forte cheiro de poeira invadia o porta-malas firme e forte.
-Estrada de terra garoto. Agora sim estamos ferrados de verdade.

Continua...

domingo, 25 de novembro de 2007

I Can’t Stop Loving You - 7 Parte


Não havia outra escolha, tinha que pagar pelos serviços. Depois de muito choro o Borracheiro Bonachão deu trintão de desconto. Enquanto preenchia o cheque e ele guardava sua relíquia em forma de foto, fomos surpreendidos por uma queda de energia e uma forte pancada na porta de aço da Borracharia. Antes mesmo de tentarmos entender o que estava acontecendo à porta veio abaixo, e três grandalhões com cara de poucos amigos adentraram o recinto. Um deles se manteve imóvel na porta da frente com um trabuco tamanho família apontado para nossoas cabeças, enquanto os outros dois vinham decididos em nossa direção. Imediatamente levantei as mãos para o alto e tremendo feito uma vara verde tentei manter a calma, já o Borracha não pensou da mesma forma e com chave de roda gigante em punho partiu pra cima dos dois aos berros.
-Mas que merda é essa na minha borracharia?!
Ele até que tentou intimá-los, mas não conseguiu muito sucesso em sua empreitada, pois em questão de segundos já estava nocauteado no chão graças a uma saraivada de golpes desferidos pela dupla. Vendo que ambos vinham firmes em minha direção, fiz questão de amenizar ao máximo minha sina balançando a chave de meu carro.
-Tá aqui galera, podem ficar com meu carro, com os trocados que eu tenho na carteira e até com meu cartão de crédito se vocês quiserem!
Eles pareciam surdos, não faziam questão nenhuma de prestar atenção em minhas propostas.
-Tá bom, tá bom! Se quiserem levar esse meu pivô de ouro também não tem problema, é só providenciarmos um alicate, eu sei que vai ser um pouco dolorido mas não tem problema.
Nada. Eles pareciam irredutíveis. Sei lá o que se passava na cabeça daqueles brutamontes. Quando estavam a menos de um metro de mim, resolvi dar minha cartada final em forma de proposta.
-Ok..oK..já sei o que vocês querem, tá legal podem ficar com meu rolex!
E tirei meu bem mais precioso do bolso.
-Tá legal. Foi mal eu não devia ter escondido de vocês. Foi sacanagem de minha parte, eu confesso, mas não dá nada não! Eu sei que vocês são assaltantes civilizados e vão entender minha situação. Me vi completamente acuado e não enxerguei outra saida a não ser.....
É os dois pareciam estar decididos. Quando estavam face a face comigo, o maior deles, um gigantesco amontoado de pele negra e músculos partiu para o ataque.
-Cala a boca Playboy dú caralho!
Só recebi o baque do soco na minha cara. Agora sei a sensação que que o Agente Smith sentiu quando Neo socava-lhe a cara. A dor é a pior possível, senti aos poucos o mundo girar, o teto desintegrar-se antes de apagar de vez.

Continua...

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

I Can’t Stop Loving You - 6 Parte


Só podia ser o efeito da Feijoada. Não havia condições daquele maldito Borracheiro fazer seu serviço de forma mais lenta. Seus movimentos pareciam ser milimétricamente calculados, parecia estar fazendo um esforço sub-humano para levantar a porcaria do macaco. Antes que o sangue me subisse a cabeça, e eu enfiasse os pés pelas mãos falando alguma asneira afim de acelerar todo aquele lento processo de troca de pneus que se arrastava a mais de uma hora, resolvi folhear umas revistas de mulher pelada que estavam amontoadas num canto da Borracharia. A mais nova das revistas era uma edição da Playboy com a Tiazinha na capa. Uma hora e meia de muitas revistas folheadas e da chuva finalmente dar uma trégua, o clone do Oliver Hardy transpirando bicas, chegou todo malicioso do meu lado, e fazendo pose de galã de horário nobre se vangloriou como conseguiu de ter finalmente terminado seu serviço.
-Pronto chefia, seu veiculo está apto a encarar o asfalto novamente!

-Sério? Já estava achando que ia dormir em sua Borracharia!
Temendo uma reação negativa por parte dele, tratei logo de ir explicando que minha afirmação se tratava apenas e tão somente de uma piada. Afinal, além dele já estar de fechando a cara, estava de porte de uma gigantesca chave de roda.

-Brincadeirinha amiga...brincadeira! Que bela coleção de revistas você possui por aqui, não?!
-Gostou é?! Cê num viu uma reliquia que eu tenho aqui!

E abriu uma das gavetas de sua surrada escrivaninha, e retirou uma foto tamanho poster dele ao lado da Vera Fischer.

-Tá vendo eu e a Verona?!

-Puxa?! Isso foi aqui na sua Borracharia?

-Ela estava gravando um comercial numa loja aqui perto, e o pneu do carro dela estava com um vazamento no bico! Quando aquele mulherão todo adentrou minha humilde Borracharia me senti o último dos homens!

-Sério?
-Você precisa ver que pele tem aquela mulher rapaz! E os olhos, e a boca e bunda então?! É coisa de outro planeta, parece que foi esculpida!
-Você deve ter ficado honrado com a presença dela, não?

-Acredita que ela queria pagar pelos meus serviços?

-E você não cobrou?!

-Acha que eu ia cobrar da Vera Fischer? Cê tá louco! Só o fato dela ter tirado uma foto ao meu lado já me valeu o mês!

-E por falar em pagar. Quanto ficou o meu?
-Duzentos reais, chefia!

-Puta que o pariu! Que falta faz uma Vera Fischer numa hora dessas!


Continua...

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

I Can’t Stop Loving You - 5 Parte


Ela simplesmente ficou parada no meio do trânsito me vendo escorregar a vinte quilômetros por hora em direção a uma borracharia. Ao observá-la pelo retrovisor parada silenciosa em meio ao que sobrou de seu aparelho celular, não sei porque tive uma ligeira impressão que o futuro me reservaria a comprovação da existência dos dois tipos de mulheres perigosas que habitam o planeta: A que fala de mais e a que fala de menos.
A borracharia não ficava lá muito distante do maldito semáforo, uns quatrocentos metros no máximo, mas essa pequena distância percorrida de maneira lenta e aterradora foi das mais longas de toda minha vida. Ao chegar ao borracharia com o que havia restado dos pneus( em verdadeira petição de miséria), dei de cara com um Borracherio Bonachão ( estilo o Gordo, da dupla O Gordo e o Magro), comendo uma bela e suculenta mamita de feijoada. Ao perceber minha presença em seu estabelecimento comercial, nem sequer fez questão de se levantar em meio aos pneus onde estava, simplesmente bradou aos céus com a boca cheia de carne de porco, algo gutural como:
-E ai mermão, quase que a Loirinha fez teu pêlo, hein?!
-Você viu que palhaçada rapaz!
Ele levantou-se segurando a marmita em uma das mãos e veio em minha direção. Em tom confessional, como se fossemos amigos de longa data foi desembuchando seu ponto de vista todo generoso e peculiar a respeito das mulheres.
-Faça as contas e tire a conclusão: De cada dez mulheres, três tem ciume doentio do marido, três são ligeiramente desconfiadas, três se separaram por motivos fúteis e duas vivem perfeitamente felizes.
Juro que tentei entender o raciocínio do Oliver Hardy Borracheiro, mas não consegui encontrar nenhum tipo de conteúdo útil em seu pensamento, mas em todo caso concordei só para não criar mais problemas. Afinal, eu ia depender de seus serviços para chegar em casa.
-É verdade, você está coberto de razão!
Pra que eu fui fazer tamanha besteira. Não é que o cidadão embalou e acabou emendando.
-Após muitos anos de pesquisas em minha humilde e singela borracharia cheguei a conclusão sobre a mulher ideal, meu velho!
-E qual seria?!
-Bonita, silênciosa, aerodinâmica, rápida e macia. Infelizmente esses requisitos só existem em anúncio de automóveis.
E soltou uma gargalhada monstruosa. Seu sorriso era tão sem graça quanto seu dentes negros de feijoada, mas para não contrariar o Borracheiro Bonachão acompanhei-o com uma risada tão ou mais falsa que uma nota de duzentos reais. E olha que quando quero sei dar um sorriso falso como ninguém. Afinal, eu já havia mencionada que sou advogado, não?!

Continua...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

I Can’t Stop Loving You - 4 Parte


Ao sentir o carro pender para a direita tive a ligeira impressão que era hora de colocar um ponto final naquela palhaçada toda. Surtei de maneira que só faltava soltar fogo pelas ventas. Estava completamente fora de mim, onde já se viu uma Zé Roela qualquer desprovida de uma mínima fatia de cérebro sequer dar pipocos nos meus pneus zero quilômetro.
Quando desci do carro nem ao menos senti as fortes gotas de chuva que desciam dos céus aos montes. Para os mais desatentos observadores, com certeza eu mais parecia um fiél retrato de uma mamute desengonçado caminhando em direção da Loirinha Pistoleira. A situação definitivamente havia se invertido. Quem ria de maneira divertida e extrovertida agora era ela. E o que é pior, ela sorria e conversava no maldito aparelho celular como se nada tivesse acontecido.
-Nada não Telminha, eu só acertei dois tirinho nos pneu de um indiota qualquer que tava me torrano as paciência no trânsito!
Não pensei duas vezes. Ao chegar do lado daquele projeto de ser humano fiz questão de arrancar-lhe o aparelho celular do ouvido e arremessá-lo com toda a força que me é peculiar no meio do asfalto. Só ao vê-lo transformar-se em mil pedacinhos é que me dei por satisfeito.
Agora quem havia perdido as estribeiras era o pequeno projeto de Loira que imediatamente desceu das tamancas e tentou acompanhar-me até meu carro, gritando tão ou mais agudo que a porra do Chitãozinho e Xororó.
-Escuti aqui seu...seu...seu...
Virei-me em sua direção e dei de cara com ela e sua maquiagem que conforme a chuva castigava decompunha em alta velocidade.
-Sabe quanto me custô aquele celulá?!
-Não sei, e não me interessa!
-Mais de Hum Miliquinhentos reais!
Entrei dentro do carro, bati a porta em sua cara, e antes de sair pela rodovia completamente inclinado à direita, fiz questão de encará-la mais uma vez.
-Manda pro conserto que eu pago.....

Continua...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

I Can’t Stop Loving You - 3 Parte


A primeira reação que tive ao ver a loirinha apontar a arma em minha direção foi do mais puro receio.
-Que é isso garota, abaixa isso ai, vai que esse troço pipoca! Somos jovens demais, eu pra ir pro cemitério, você pra pegar uns vinte anos de cadeia!
Mesmo estando com meus nervos alterados ao encarar o trabuco. Coisa que nunca havia feito na vida. Estava com tanta certeza que a pobre coitada não me faria mal algum que mesmo acuado naquela situação pouco comum, continuei agindo como se não fosse comigo, tirei os olhos da arma e me voltei para o semáforo, que finalmente havia resolvido me dar uma mãozinha, acelerando sua velocidade de troca e restando apenas duas casas vermelhas apenas para serem obedecidas. E quem foi que disse que a loirinha acompanhou meu raciocínio.
-Escuti aqui seu pedaço de gente, vai me pedir as desculpa ou não vai!
Não havia outra escolha, eu não poderia ficar ali imune àquele festival de agressividades ao bom e velho Português. A mulher era uma verdadeira metralhadora de ofensas ao bom e velho idioma da pátria mãe.
-Tô falano com você!
Resolvi colocar um fim naquela palhaçada toda. Afinal, quem mandou estar feliz da vida e sorrir para a pessoa errada. Não custava pedir uma desculpazinha fajuta pra uma neurótica estranha qualquer. Tirei minha atenção do semáforo e ao dar de cara com a arma apontada para minha cabeça resolvi colocar um ponto final naquela situação toda. Quando estava prestes a abrir a boca e pronunciar as palavras mágicas o telefone celular da loirinha soou feito um condenado. Advinha qual era o toque emitido pelo miserável: “I Can’t Stop Loving You”. Juro que naquele instante tentei não ser preconceituoso, tentei pensar desde terriveis desastres de avião até a conta da luz que está a mais de mês atrasada. Mas nada era capaz de me mudar de foco, o motivo que leva alguém colocar um clássico da música como a porra do toque do celular é muito maior do que a própria razão da existência. A cada ligação que aquela merda de celular recebesse o velho Ray Charles com certeza se movia na cova. E eu achando que as surpresas a mim reservadas haviam chegado ao fim. Quando a loirinha depois de mais de um minuto procurando o maldito aparelho entre suas quinquilharias pessoais o encontrou a que a mim estava guardada era ainda maior. O celular da garota simplesmente parecia um pequeno artefato alienígena. Era uma mistura dos primeiro modelos do gênero, aqueles tijolões tamanho família com uma capa de Zebra. Quando ela abriu o dito cujo e pronunciou:
-Oi! Sidirléya no aparelho! É Sidirléya com Ipisilongue no final!
Sinceramente? Era humanamente impossível segurar o riso. Mas o que saiu de dentro de mim não foi um riso qualquer foi uma verdadeira gargalhada. Eu ria tanto que parecia possuído. Contraia tanto meus músculos faciais que por muito pouco não tive um troço. Só parei de rir daquela estupidez toda quando ouvi dois estampidos vindo do revólver da loirinha e senti imediatamente meu carro pender pro lado dela. Não é que a maldita havia acertado os dois pneus do meu carro.
-Ria agora Mané! Ria?!